A vida é limitada. Está certeza muitas vezes nos constrange naturalmente, mas muito mais quando ela (vida) se torna limitada por um acidente, por uma violência, enfim por uma ação não natural.
Perder um ente querido se configura uma experiência das mais dolorosas. Somente quem viveu esta situação sabe a dor, a tristeza, o sofrimento na alma. Eu, na noite passada quase não dormi, pensando na angustia das famílias do acidente aéreo da TAM em Congonhas. Oro por eles, só posso ser solidário neste momento assim... Mas não deixo de ficar muito incomodado com a “morte nossa de cada dia” fruto da violência humana estrutural que ocorre nas favelas, nas ruas, nas periferias e por vezes fica tão banalizada que passa a ser pouco comentada.
Entretanto, como toda experiência existencial humana, a morte também merece ser refletida. Recordo-me de uma aula de filosofia na Universidade, primeiro semestre de Agronomia, na ocasião meus alunos (creio que a maioria) esperavam um discurso pronto sobre os “fundamentos epistemológicos da ciência moderna no ocidente” e resolvi lhes perguntar se “estavam preparados” para o momento de sua morte! Nem lhes conto, aquilo foi chocante, repudiaram dramaticamente o questionamento, perguntando-me se eu estava louco, rsrsr...
Ficou-me como certa a impressão de que a grande maioria das pessoas, jovens principalmente não sabe lidar com este assunto.Mas por quais motivos?
Lendo um texto de filosofia estes dias, as autoras faziam uma menção curiosa. Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins sugerem que nossa sociedade substitui os momentos de discutir alguns “tabus”, dentre eles a morte e o sexo. Deixe-me explicar melhor. Antigamente, se falava pouco sobre sexo, a educação sexual era “experimentada” às “escondidas”. As mães por vezes só contavam para as filhas o que viria acontecer na noite de núpcias, poucos momentos antes do casamento. Era um “tabu”. Por outro lado, a morte era experienciada, vivida no seio da família. Um idoso morria cercado pelos filhos, abençoando seus netos, quase que num ritual de despedidas finais. Hoje, ao contrário, aprende-se cedo sobre sexo, as escolas, os pais, a televisão, a Internet, todos comentam abertamente sobre o assunto, mas sobre a morte, seus rituais, sobre os limites da vida, quase ninguém se atreve a falar. Ficam relegados as “mãos”e cuidados de profissionais, muitas vezes longe da casa familiar, na frieza muitas vezes de um hospital ou asilo. Percebe-se ai um distanciamento (ou medo?) da dor, do sofrimento, do limite final. Uma tentativa de poupar os pequenos.
Recordar que a vida tem limite, que nosso tempo histórico é finito, creio eu que seja uma necessidade nos dias atuais se considerarmos o quanto podemos poupar de sofrimentos a própria vida. O homem hodierno anula as coisas mais prazerosas e significativas da vida em nome de um suposto prolongamento da mesma. Dá para perceber isso quando vemos uma verdadeira dependência da chamada “produtividade” no trabalho, do relógio, das convenções sociais, tudo isso em detrimento do tempo com a família, com os amigos, até consigo mesmo. Como é motivador, espiritualmente falando contemplar um pôr-do-sol.
Fico imaginando então, quem pensa que pode “acrescentar” um dia a mais na sua vida, e a pior, pensa que nunca a morte chegará a ele, no máximo ela chega no “vizinho”. Não me considerem um fatalista, ou mesmo determinista com relação a este assunto, mas penso que temos que considerar sempre, e com certeza a finitude de nossa vida. É muito significativo o conselho evangélico de que a vida é dom de Deus (Lc 12, 16-21), e que não podemos nos iludir com os projetos puramente materiais. Um grande pregador, o saudoso Pe. Léo, dizia que “só vale a pena lutar por aquilo que tem a marca do eterno”.
Bem, daria para ficar escrevendo, escrevendo e sendo chato sobre isso. Finalizo afirmando que a morte é conseqüência de nossa condição humana, e por mais que tentemos adiá-la, ela chega e nos colhe.
Por ser triste, deixar vazio, dor e sofrimento ela jamais conseguirá ser “explicada”. Só podemos “chorar com os que choram”, ou seja, experiência-la, vivê-la literalmente falando. Viver a morte com a certeza da vida! E como cristão, eu creio que ela não pode ser o veredicto final. Ora, se a semente não morre, nunca vira árvore! Somente “quem não ama permanece na morte” e “nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” (I Jo 3,14). Eis o caminho seguro para a superação da morte e seu medo. Ser semente! Disso decorre que só se tem medo da morte quando a semente é estéril, ou quando a vida é pequena ou muito medíocre. Amar faz a vida ser plena, grande e eterna. Nos da a certeza de germinar e ser árvore. Isso vale para todos, independente da crença ou não-crença.
Pensemos nisso e nos convertamo-nos para o amor.
Paz, bem e bom dia a tod@s!
Hélio Márcio
quinta-feira, 19 de julho de 2007
quarta-feira, 18 de julho de 2007
VALE A PENA REFLETIR SOBRE O QUE DO FUNDO DA ALMA CREMOS E AMAMOS...
Frei Betto nos brinda com esta poesia linda e constrangedora...
Creio no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas a religiões existentes e por existir. Deus que precede todos os batismos, pré-existe aos sacramentos e desborda de todas as doutrinas religiosas. Livre dos teólogos, derrama-se graciosamente no coração de todos, crentes e ateus, bons e maus, dos que se julgam salvos e dos que se crêem filhos da perdição, e dos que são indiferentes aos abismos misteriosos do pós-morte.
Creio no Deus que não tem religião, criador do Universo, doador da vida e da fé, presente em plenitude na natureza e nos seres humanos. Deus ourives em cada ínfimo elo das partículas elementares, da requintada arquitetura do cérebro humano ao sofisticado entrelaçamento do trio de quarks.
Creio no Deus que se faz sacramento em tudo que aproxima, atrai, enlaça, abraça e une - o amor. Todo amor é Deus e Deus é o real. Em se tratando de Deus, bem diz Rumî, não é o sedento que busca a água, é a água que busca o sedento. Basta manifestar sede e a água jorra.
Creio no Deus que se faz refração na história humana e resgata todas as vítimas de todo poder capaz de fazer o outro sofrer. Creio em teofanias permanentes e no espelho da alma que me faz ver um Outro que não sou eu. Creio no Deus que, como o calor do sol, sinto na pele, sem no entanto conseguir fitar ou agarrar o astro que me aquece.
Creio no Deus da fé de Jesus, Deus que se aninha no ventre vazio da mendiga e se deita na rede para descansar dos desmandos do mundo. Deus da Arca de Noé, dos cavalos de fogo de Elias, da baleia de Jonas. Deus que extrapola a nossa fé, discorda de nossos juízos e ri de nossas pretensões; enfada-se com nossos sermões moralistas e diverte-se quando o nosso destempero profere blasfêmias.
Creio no Deus que, na minha infância, plantou uma jabuticabeira em cada estrela e, na juventude, enciumou-se quando me viu beijar a primeira namorada. Deus festeiro e seresteiro, ele que criou a lua para enfeitar as noites de deleite e as auroras para emoldurar a sinfonia passarinha dos amanheceres.
Creio no Deus dos maníacos depressivos, das obsessões psicóticas, da esquizofrenia alucinada. Deus da arte que desnuda o real e faz a beleza resplandecer prenhe de densidade espiritual. Deus bailarino que, na ponta dos pés, entra em silêncio no palco do coração e, soada a música, arrebata-nos à saciedade.
Creio no Deus do estupor de Maria, da trilha laboral das formigas e do bocejo sideral dos buracos negros. Deus despojado, montado num jumento, sem pedra onde recostar a cabeça, aterrorizado pela própria fraqueza.
Creio no Deus que se esconde no avesso da razão atéia, observa o empenho dos cientistas em decifrar-lhe os jogos, encanta-se com a liturgia amorosa de corpos excretando sumos a embriagar espíritos.
Creio no Deus intangível ao ódio mais cruel, às diatribes explosivas, ao hediondo coração daqueles que se nutrem com a morte alheia. Misericordioso, Deus se agacha à nossa pequenez, suplica por um cafuné e pede colo, exausto frente à profusão de estultices humanas.
Creio sobretudo que Deus crê em mim, em cada um de nós, em todos os seres gerados pelo mistério abissal de três pessoas enlaçadas pelo amor e cuja suficiência desbordou nessa Criação sustentada, em todo o seu esplendor, pelo frágil fio de nosso ato de fé.
Frei Betto é escritor, autor de "A Obra do Artista - uma visão holística do Universo" (Ática), entre outros livros.
Creio no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas a religiões existentes e por existir. Deus que precede todos os batismos, pré-existe aos sacramentos e desborda de todas as doutrinas religiosas. Livre dos teólogos, derrama-se graciosamente no coração de todos, crentes e ateus, bons e maus, dos que se julgam salvos e dos que se crêem filhos da perdição, e dos que são indiferentes aos abismos misteriosos do pós-morte.
Creio no Deus que não tem religião, criador do Universo, doador da vida e da fé, presente em plenitude na natureza e nos seres humanos. Deus ourives em cada ínfimo elo das partículas elementares, da requintada arquitetura do cérebro humano ao sofisticado entrelaçamento do trio de quarks.
Creio no Deus que se faz sacramento em tudo que aproxima, atrai, enlaça, abraça e une - o amor. Todo amor é Deus e Deus é o real. Em se tratando de Deus, bem diz Rumî, não é o sedento que busca a água, é a água que busca o sedento. Basta manifestar sede e a água jorra.
Creio no Deus que se faz refração na história humana e resgata todas as vítimas de todo poder capaz de fazer o outro sofrer. Creio em teofanias permanentes e no espelho da alma que me faz ver um Outro que não sou eu. Creio no Deus que, como o calor do sol, sinto na pele, sem no entanto conseguir fitar ou agarrar o astro que me aquece.
Creio no Deus da fé de Jesus, Deus que se aninha no ventre vazio da mendiga e se deita na rede para descansar dos desmandos do mundo. Deus da Arca de Noé, dos cavalos de fogo de Elias, da baleia de Jonas. Deus que extrapola a nossa fé, discorda de nossos juízos e ri de nossas pretensões; enfada-se com nossos sermões moralistas e diverte-se quando o nosso destempero profere blasfêmias.
Creio no Deus que, na minha infância, plantou uma jabuticabeira em cada estrela e, na juventude, enciumou-se quando me viu beijar a primeira namorada. Deus festeiro e seresteiro, ele que criou a lua para enfeitar as noites de deleite e as auroras para emoldurar a sinfonia passarinha dos amanheceres.
Creio no Deus dos maníacos depressivos, das obsessões psicóticas, da esquizofrenia alucinada. Deus da arte que desnuda o real e faz a beleza resplandecer prenhe de densidade espiritual. Deus bailarino que, na ponta dos pés, entra em silêncio no palco do coração e, soada a música, arrebata-nos à saciedade.
Creio no Deus do estupor de Maria, da trilha laboral das formigas e do bocejo sideral dos buracos negros. Deus despojado, montado num jumento, sem pedra onde recostar a cabeça, aterrorizado pela própria fraqueza.
Creio no Deus que se esconde no avesso da razão atéia, observa o empenho dos cientistas em decifrar-lhe os jogos, encanta-se com a liturgia amorosa de corpos excretando sumos a embriagar espíritos.
Creio no Deus intangível ao ódio mais cruel, às diatribes explosivas, ao hediondo coração daqueles que se nutrem com a morte alheia. Misericordioso, Deus se agacha à nossa pequenez, suplica por um cafuné e pede colo, exausto frente à profusão de estultices humanas.
Creio sobretudo que Deus crê em mim, em cada um de nós, em todos os seres gerados pelo mistério abissal de três pessoas enlaçadas pelo amor e cuja suficiência desbordou nessa Criação sustentada, em todo o seu esplendor, pelo frágil fio de nosso ato de fé.
Frei Betto é escritor, autor de "A Obra do Artista - uma visão holística do Universo" (Ática), entre outros livros.
terça-feira, 17 de julho de 2007
Por onde andas...o que tens feito...o que pretendes fazer ?
Muitas pessoas e inclusive amig@s que tenho reencontrado tem me enchido de perguntas ultimamente. Perguntas que chegam as raias da pura "especulação" ( me perdoem se fui duro).
Por onde andas? O que você tem feito? O que pretende fazer e ser?
Bem se vier de amigos próximos, a maioria ja sabe todas elas, pois os amigos sempre nos acompanharam. Mas se "alguém " ainda não sabe eu respondo: fico em Cuiabá fazendo o Mestrado em Educação ( meu grande sonho se concretiza), e simplesmente pretendo ser um bom educador em minha cidade.
Só isso, simples como o Evangelho. Nada mais de " luzes, câmera, ação!". Sinceramente, não tenho vocação para isso. Passei no concurso da SEDUC e não quero perder esta chance.
Político serei sempre, no sentido mais radical da palavra, como diz Aristóteles um verdadeiro " zoom politikon"( animal político) alguém da pólis( sociedade), rsrsr... Até pelo simples fato que " Todo és político, aunque que el político no sea el todo" ( tudo é política, ainda que a política não seja o todo).  Tenho consciência dos acertos e erros, no fim de tudo, creio que " combati o bom combate". Mas minha contribuição será maior na educação, no " chão de uma sala de aula", na igreja, na minha comunidade de irmãos! No campo da escola e na escola do Campo!  Como sempre fui e pretendo estar sendo. Ai eu me realizo, pois" onde está o seu tesouro, ai está seu coração".
Não pretendo ser mais candidato a mais nenhum cargo eletivo, nada! Apenas quem sabe a um futuro doutorado, rsrsrs... e até isso tenho reavaliado.
Estou feliz, apesar dos apertos, rsrsr...
Ser feliz é um estado contingencial, ninguém o é plenamente, apenas estamos sendo, dia após dia. Caminho devagar pois já tive pressa!
Na paz e no bem,
Hélio Márcio.
Inicio de mais uma caminhada...
Estimad@s !
Fico feliz de poder compartilhar com tod@s vocês e de vz em quando (quando os trabalhos no mestrado deixar, rsrs...) algumas reflexões que faço pelo fato de serem aspirações do que acredito e que as vezes me incomodam muito.
Nem tudo pode servir, pois como acabei de dizer, são as que eu acredito( e quem sou eu?), mas por outro lado podem motivar a reflexão e o surgimento de novas perspectivas.
Sou meio prolixo, as vezes acho que não escrevo bem, agora gosto de falar, isso sim!E a boca fala do que esta cheio o coração!
Um forte abraço a todos...
Paz e Bem!
Hélio Márcio.
Fico feliz de poder compartilhar com tod@s vocês e de vz em quando (quando os trabalhos no mestrado deixar, rsrs...) algumas reflexões que faço pelo fato de serem aspirações do que acredito e que as vezes me incomodam muito.
Nem tudo pode servir, pois como acabei de dizer, são as que eu acredito( e quem sou eu?), mas por outro lado podem motivar a reflexão e o surgimento de novas perspectivas.
Sou meio prolixo, as vezes acho que não escrevo bem, agora gosto de falar, isso sim!E a boca fala do que esta cheio o coração!
Um forte abraço a todos...
Paz e Bem!
Hélio Márcio.
A comunidade-família de Jesus de Názaré...
Como é bom ter uma família.Mesmo que ela não seja assim tão tradicional, o ser humano não nasceu para viver só. Nela a gente encontra apoio, base, alicerce, mas também e porque não um bom espaço para discussão, para exercitarmos a tolerância e reconhecermos  o “Outro”, que não é o mesmo, fruto de nosso narcisismo? Neste espaço eminentemente educativo, somos chamados a viver as diferenças com fraternidade e solidariedade. E por falar nessas categorias  nada melhor do que, numa sociedade marcada pelas relações de troca financeira “experienciar”a gratuidade nas relações familiares. É uma pena a gente ver irmãos e pais se cobrando desumanamente  por qualquer tipo de divida. Sejam elas emocionais, sociais, ou até mesmo pecuniárias.
As religiões em sua grande maioria tem trabalhado bastante esta temática ultimamente. Em seus mais diversos viezes teológicos interpretam o seu “jeito” de ser família. Ora, sendo a religião um fenômeno cultural, suas concepções de família serão decorrentes de suas próprias formas de relacionar-se com suas sociedades culturais. Desta forma, o que pode soar “estranho” como família no ocidente, pode ser perfeitamente normal numa outra sociedade.
Procurei frisar esta relatividade no que diz respeito a família, visto que até mesmo no ocidente, o conceito de família nem sempre foi historicamente igual ao que temos hoje. Nossa família ocidental é oriunda de uma cultura patriarcal greco-romana em que em seus primórdios o chefe de família “despotés” exercia o poder de vida e de morte sobre seus membros. Mulheres, filhos, escravos, agregados, parentes, enfim, todos que mantinham uma relação de dependência e proteção ficavam sobre a tutela do patriarca. O direito romano nos mostra claramente este tipo de relação. Contamos ainda com uma vertente ameríndia onde varias sociedades também vivenciavam esta forma de ser família. A Bíblia nos mostra muitos exemplos desse modo de viver familiar na sociedade hebréia bem como de seus vizinhos.
Com o advento do cristianismo, percebe-se claramente uma nova forma (um pouco tímida ainda, mas estrategicamente segura) de se tratar a família. Paulo, observando o contexto patriarcal da sociedade helênica, não expõe a comunidade cristã (fraca e pequena) ao descrédito da mesma, ele tinha consciência que não adiantava “bater de frente”num momento de crescimento da Igreja num mundo pagão, antes começa a inaugurar com a família cristã uma nova forma, sutil mas profundamente significativa de convívio. Trago aqui uma passagem significativa: “Mulheres sejam submissas aos seus maridos como ao Senhor(...) Maridos amem suas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (...) Portanto os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher está amando a si mesmo.( Efésios 5, 22 e ss) E ainda, “Filhos obedeçam a seus pais no Senhor (...) Pais não dêem aos filhos motivos de revoltas contra vocês(...)” ( 6,1 e ss). Também o autor da I Pedro em seu capitulo 3 demonstra esta mudança de comportamento com relação ao tratamento familiar. Mas todas estas manifestações nem sempre foram vivenciadas e/ou assumidas como doutrina social nas culturas em que a fé cristã assegurou sucesso em sua missão.
No decorrer da história, a família se insere em outras etapas da sociedade, e se molda a seus modos de ser e viver. Decorre daí, que a família na Idade Média continuará a ser marcada pelas imposições do senhorio feudal, ao passo que na modernidade, com o surgimento do sujeito e o advento econômico do capitalismo, a guinada na compreensão de família será fundamentalmente significativa.
Percebemos assim, a preocupação das Igrejas com a família, seus valores perenes e suas agitações. A família tem merecido preocupações pastorais e se inserido na agenda de muitas ações de cristãos comprometidos com uma sociedade melhor e mais humanizada. E em assuntos de família cristã, penso responsavelmente que não podem ficar de fora a segurança alimentar, a saúde, o planejamento familiar e a educação. As Igrejas não podem se furtarem de serem mundo familiar, até porque sua teologia se funda numa comunidade familiar, a Trindade Santa. O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são solidão! O que acredito ser uma necessidade pastoral e atitude evangélica urgente seria romper com uma concepção burguesa de família centrada nos indivíduos, solidários entre si somente por consangüinidade. Tal concepção de família fechada, nuclear só tenderá ao individualismo. Neste sentido fica fácil amar a “minha” família ou as parecidas com ela. “Se vocês amam somente aqueles que os amam, que gratuidade é essa?” (Lc 6,32). Mas e as outras famílias constituídas de formas diversas, fruto de uma sociedade fragmentária, desigual socialmente e economicamente? São pistas para ao meu ver retomarmos o conceito de família e pastoral familiar. Em vez de centrarmos atenção no aspecto individual da família, abrirmos ela para novas experiências.
As religiões em sua grande maioria tem trabalhado bastante esta temática ultimamente. Em seus mais diversos viezes teológicos interpretam o seu “jeito” de ser família. Ora, sendo a religião um fenômeno cultural, suas concepções de família serão decorrentes de suas próprias formas de relacionar-se com suas sociedades culturais. Desta forma, o que pode soar “estranho” como família no ocidente, pode ser perfeitamente normal numa outra sociedade.
Procurei frisar esta relatividade no que diz respeito a família, visto que até mesmo no ocidente, o conceito de família nem sempre foi historicamente igual ao que temos hoje. Nossa família ocidental é oriunda de uma cultura patriarcal greco-romana em que em seus primórdios o chefe de família “despotés” exercia o poder de vida e de morte sobre seus membros. Mulheres, filhos, escravos, agregados, parentes, enfim, todos que mantinham uma relação de dependência e proteção ficavam sobre a tutela do patriarca. O direito romano nos mostra claramente este tipo de relação. Contamos ainda com uma vertente ameríndia onde varias sociedades também vivenciavam esta forma de ser família. A Bíblia nos mostra muitos exemplos desse modo de viver familiar na sociedade hebréia bem como de seus vizinhos.
Com o advento do cristianismo, percebe-se claramente uma nova forma (um pouco tímida ainda, mas estrategicamente segura) de se tratar a família. Paulo, observando o contexto patriarcal da sociedade helênica, não expõe a comunidade cristã (fraca e pequena) ao descrédito da mesma, ele tinha consciência que não adiantava “bater de frente”num momento de crescimento da Igreja num mundo pagão, antes começa a inaugurar com a família cristã uma nova forma, sutil mas profundamente significativa de convívio. Trago aqui uma passagem significativa: “Mulheres sejam submissas aos seus maridos como ao Senhor(...) Maridos amem suas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (...) Portanto os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher está amando a si mesmo.( Efésios 5, 22 e ss) E ainda, “Filhos obedeçam a seus pais no Senhor (...) Pais não dêem aos filhos motivos de revoltas contra vocês(...)” ( 6,1 e ss). Também o autor da I Pedro em seu capitulo 3 demonstra esta mudança de comportamento com relação ao tratamento familiar. Mas todas estas manifestações nem sempre foram vivenciadas e/ou assumidas como doutrina social nas culturas em que a fé cristã assegurou sucesso em sua missão.
No decorrer da história, a família se insere em outras etapas da sociedade, e se molda a seus modos de ser e viver. Decorre daí, que a família na Idade Média continuará a ser marcada pelas imposições do senhorio feudal, ao passo que na modernidade, com o surgimento do sujeito e o advento econômico do capitalismo, a guinada na compreensão de família será fundamentalmente significativa.
Percebemos assim, a preocupação das Igrejas com a família, seus valores perenes e suas agitações. A família tem merecido preocupações pastorais e se inserido na agenda de muitas ações de cristãos comprometidos com uma sociedade melhor e mais humanizada. E em assuntos de família cristã, penso responsavelmente que não podem ficar de fora a segurança alimentar, a saúde, o planejamento familiar e a educação. As Igrejas não podem se furtarem de serem mundo familiar, até porque sua teologia se funda numa comunidade familiar, a Trindade Santa. O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são solidão! O que acredito ser uma necessidade pastoral e atitude evangélica urgente seria romper com uma concepção burguesa de família centrada nos indivíduos, solidários entre si somente por consangüinidade. Tal concepção de família fechada, nuclear só tenderá ao individualismo. Neste sentido fica fácil amar a “minha” família ou as parecidas com ela. “Se vocês amam somente aqueles que os amam, que gratuidade é essa?” (Lc 6,32). Mas e as outras famílias constituídas de formas diversas, fruto de uma sociedade fragmentária, desigual socialmente e economicamente? São pistas para ao meu ver retomarmos o conceito de família e pastoral familiar. Em vez de centrarmos atenção no aspecto individual da família, abrirmos ela para novas experiências.
A SEMENTINHA SUBVERSIVA...
Tenho pensado muito ultimamente. As vezes até demais. Pensar muitas vezes incomoda a gente. Somos constantemente bombardeados de informações sobre violência, sobre guerras, crises econômicas, novas tecnologias, enfim, até mesmo escândalos políticos e separações de artistas! Fiz um trato comigo mesmo de tentar não perder a paz por pouca coisa, mas algumas coisas nos perturbam muito pelas suas contradições.Ultimamente uma de minhas preocupações tem sido o crescente distanciamento motivado por interesses econômicos e políticos entre o ocidente ( leia-se EUA) e o oriente ( islã). Retirando as mascaras e os disfarces, sabemos perfeitamente que o debate entre  Bush e os paises islâmicos não são motivados pela “missão “de levar a democracia e a liberdade aos cidadãos islâmicos, mas sim a expansão de mercados e exploração de recursos minerais(petróleo) no oriente médio e Ásia central. O islã e a cultura oriental teoricamente inviabilizariam a expansão neoliberal do capitalismo em suas ultimas fronteiras.
É uma pena que a maioria dos meios de comunicação do ocidente comprometidos com o capitalismo não faz a critica necessária e deixa de informar o que está além das aparências. Começo a temer pela eminência de uma nova “guerra santa” convocada por “um neo-cruzado liberal” que evoca o nome de Deus para justificar suas ações de liberdade e democracia. E por falar em democracia, o novo elemento propagandístico do momento é o filme 300, que retrata a defesa da Grécia e o seu modo de vida pelo rei espartano Leônidas contra Xerxes e os persas ( atual Irã). Nada mais sugestivo para lembrar os engodos envolventes do cenário da ofensiva estadunidense no momento. De tudo isso o que mais me intriga é o fato de que pequenos paises islâmicos, pobres, deficientes em tecnologia incomodam tanto o império!
Diante dessa constatação, como cristão, me volto para a Bíblia fazendo a leitura critica do momento, relembrando Frei Carlos Mester em seu método de leitura, no qual dizia que devemos ter a Bíblia numa mão e o jornal em outra para que a leitura da palavra sagrada fosse fecunda e permeasse nossa realidade. Não se trata de reduzir a Palavra como “gancho” de compreensão da realidade, mas fazer a leitura da realidade na perspectiva iluminadora da Palavra de Deus. “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (salmo 119, 105). Fiquei imaginando a cena de Atos dos Apóstolos 17,6 onde Paulo e Silas incomodam bastante e são tratados como os homens que estão “transtornando o mundo inteiro (...) afirmando que existe outro rei chamado Jesus”.
Sabemos que na época de Paulo e sua equipe pastoral, no contexto do império romano, proclamar outra fonte de autoridade fora do imperador era subversão. Daí decorre em parte as grandes perseguições que sofreram os cristãos nos séculos seguintes, antes do casamento da Igreja primitiva com o Estado imperial. Digo que decorre em parte, pelo fato de que o que os cristãos iriam incomodar mais por suas práticas que por suas crenças especificas o poderoso império romano. A superação de uma concepção de trabalho manual como sendo algo exclusivo de escravos, choca-se com os próprios ensinamentos de Paulo, ele não quis ser peso para as Igrejas a quem anunciava a Boa Nova, nisso podemos enxergar o gérmen da abolição da escravidão como prática dos que aceitam a seguir Jesus em seu Caminho (AT 9,2), e conseqüentemente a incompreensão por parte da cultura aristocrática dos greco-romanos. Perseguição a vista! Algo mais, o cristianismo ensinou aos seus o respeito nas relações de gênero num sistema extremamente patriarcal. Mais perseguição e incompreensão! Partilha e comunhão de vida, relações de gratuidade, libertando o pobre de sua miséria e o rico de sua avareza, tudo isso celebrado, com mulheres, escravos e estrangeiros na mesma mesa, todos unidos pela verdade do evangelho (Gal 3,27), mais um motivo para incomodar.Enfim, em quase trezentos anos “ser cristão” representava ser incompreendido e subversivo. Um historiador deixa escapar um comentário sobre a hierarquia da Igreja na época, em que “os bispos eram de ouro e os cálices de madeira”.
Não vou me ater as discussões históricas posteriores, apenas trago esses elementos para uma reflexão sobre a “subversão cristã” necessária nos dias atuais. É no mínimo curioso saber que não somos nós, hoje, os cristãos, ocidentais, bons cidadãos, pais de famílias respeitados, moralmente e politicamente corretos que todos os domingos vamos ao culto ou a missa, que incomodamos o império! Pelo contrário somos elogiados!
“O mundo odiará vocês” (JO 15,19), essas palavras soam desafiadoras e interpelativas hoje. Não se trata de buscar ser masoquista, gostar de sofrer, mas de que em nossa prática profética, ser sinal de esperança, e ser evangelizador é fazer valer nossa dimensão missionária que consiste em materializar a esperança aos desesperados. Infelizmente parece que ser cristão hoje soa mais com o estereótipo do bom comportamento, bem disciplinados (como Foucault descreve), do que no desafio da vivência do evangelho na sociedade e nas suas estruturas.
E por falar em esperança, esta categoria não tem sido muito experimentada em nossa sociedade.Vivemos na sociedade da satisfação imediata advinda do consumo. Nunca se consumiu tanto em nossa sociedade como nesses tempos. Aliás, tempos em que a alta tecnologia se confunde com a pobreza e miséria humana. Falta-se o pão, a educação, a saúde, o essencial para a vida, mas não o celular, e a televisão despertando a confusão entre desejo e esperança. Só podemos ter esperança quando esperamos algo que não temos.
O povo de Israel tinha motivos de esperar, Maria espera ansiosa o cumprimento da promessa de Deus mediante seu sim. Na sociedade do consumo, a espera é substituída pelo desejo de ter.Mediante a esperança criamos condições de ser. Através da Promessa de Deus, o povo se torna seu povo santo, a virgem se torna Mãe pois o Verbo divino se torna humano. Evangelizar se pauta nesta fundamental categoria humana.
Não polemizarei aqui afirmando que os dirigentes islâmicos que tem desafiado o neoliberalismo fundamentam a esperança de alguém, ou incitem o medo. O que quero dizer é que tampouco o modo de vida ocidental, proposto pelo capitalismo neoliberal e triunfalista, e infelizmente vivenciada pela grande massa de “batizados”, tem conseguido sanar os problemas da “banda” empobrecida e “vencida” no mundo.
Neste sentido, nos ensina Pe. Comblin “ ocorre que a mensagem cristã é essencialmente mensagem de esperança, sobretudo para os vencidos. Jesus surge como o próprio sinal de esperança para os camponeses pobres da Galiléia. A sua caminhada pelas aldeias despertou uma fermentação de esperança e entusiasmo. E esse é o núcleo, o ponto de partida de todo projeto cristão, que não pode se afastar das origens sob pena de perder o seu sentido e sua força. Jesus vai para a Galiléia. A opção básica por este lugar já acontecia como Boa-Nova, Evangelho. Jesus nem precisava falar muito. A escolha pelo povo da Galiléia para realizar seus sinais falava por si mesmo. A evangelização não precisa de muitos discursos, a escolha acertada do lugar onde a gente está é essencial para isso. Essa é a referencia absoluta, impostergável e, ao mesmo tempo, um desafio. Os discípulos de Cristo sempre foram para a “Galiléia”? E hoje, estão na “Galiléia”? Quando muitas vezes a relativa esterilidade da evangelização ocorre, não vejo outra explicação. É urgente ir para a “Galiléia”. Quem fizer isso, torna-se sinal de esperança”. E onde ficava a Galiléia? Na periferia da Palestina. É interessante como Jesus insiste em alguns lugares especiais, Galiléia, Betânia, Samaria.Todos lugares periféricos e pobres.
Termino essa pequena reflexão na tentativa de fomentar um pouco mais nossa missão de cristãos: os leigos em seu testemunho constante diante de todas as estruturas da sociedade, mas principalmente os clérigos, lideres eclesiásticos , padres e pastores, como também os educadores . Não está na hora de começarmos a mudar nossa forma de pastoreio e educação e começar a desafiar nossas “ovelhas” gordinhas a serem expertos “cabritos selvagens? Lembro-me de Rubem Alves nesta hora que dizia que nosso grande desafio como pastores e educadores do povo não é formar gente conformada, como “óh velhinhas” que balem “amééémm”quando pregamos ou ensinamos, mas bodes selvagens monteses, aqueles que sobem no alto das montanhas desafiando a lei da gravidade e tem coragem de vivenciar um encontro existencial em suas vidas olhando profundamente nos olhos de Deus.
Ser cristão é correr riscos, somos herdeiros de um “criminoso político” histórico condenado em dois processos. Mas como diz Frei Betto,temos a genética da “sementinha de mostarda”. Se nossa fé for do tamanho dela, ( nem precisa ser maior) removeremos montanhas, cercas que impedem pessoas de viver e amar, fome, preconceitos, tradições sem sentido, violências, etc... Mas se nada sair do lugar, o contrario de nossa fé, não será a incredulidade, mas sim, o medo vencendo a esperança . “Homens da Galiléia, por que vocês estão ai parados olhando para o céu?”(At 1,11).
É uma pena que a maioria dos meios de comunicação do ocidente comprometidos com o capitalismo não faz a critica necessária e deixa de informar o que está além das aparências. Começo a temer pela eminência de uma nova “guerra santa” convocada por “um neo-cruzado liberal” que evoca o nome de Deus para justificar suas ações de liberdade e democracia. E por falar em democracia, o novo elemento propagandístico do momento é o filme 300, que retrata a defesa da Grécia e o seu modo de vida pelo rei espartano Leônidas contra Xerxes e os persas ( atual Irã). Nada mais sugestivo para lembrar os engodos envolventes do cenário da ofensiva estadunidense no momento. De tudo isso o que mais me intriga é o fato de que pequenos paises islâmicos, pobres, deficientes em tecnologia incomodam tanto o império!
Diante dessa constatação, como cristão, me volto para a Bíblia fazendo a leitura critica do momento, relembrando Frei Carlos Mester em seu método de leitura, no qual dizia que devemos ter a Bíblia numa mão e o jornal em outra para que a leitura da palavra sagrada fosse fecunda e permeasse nossa realidade. Não se trata de reduzir a Palavra como “gancho” de compreensão da realidade, mas fazer a leitura da realidade na perspectiva iluminadora da Palavra de Deus. “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (salmo 119, 105). Fiquei imaginando a cena de Atos dos Apóstolos 17,6 onde Paulo e Silas incomodam bastante e são tratados como os homens que estão “transtornando o mundo inteiro (...) afirmando que existe outro rei chamado Jesus”.
Sabemos que na época de Paulo e sua equipe pastoral, no contexto do império romano, proclamar outra fonte de autoridade fora do imperador era subversão. Daí decorre em parte as grandes perseguições que sofreram os cristãos nos séculos seguintes, antes do casamento da Igreja primitiva com o Estado imperial. Digo que decorre em parte, pelo fato de que o que os cristãos iriam incomodar mais por suas práticas que por suas crenças especificas o poderoso império romano. A superação de uma concepção de trabalho manual como sendo algo exclusivo de escravos, choca-se com os próprios ensinamentos de Paulo, ele não quis ser peso para as Igrejas a quem anunciava a Boa Nova, nisso podemos enxergar o gérmen da abolição da escravidão como prática dos que aceitam a seguir Jesus em seu Caminho (AT 9,2), e conseqüentemente a incompreensão por parte da cultura aristocrática dos greco-romanos. Perseguição a vista! Algo mais, o cristianismo ensinou aos seus o respeito nas relações de gênero num sistema extremamente patriarcal. Mais perseguição e incompreensão! Partilha e comunhão de vida, relações de gratuidade, libertando o pobre de sua miséria e o rico de sua avareza, tudo isso celebrado, com mulheres, escravos e estrangeiros na mesma mesa, todos unidos pela verdade do evangelho (Gal 3,27), mais um motivo para incomodar.Enfim, em quase trezentos anos “ser cristão” representava ser incompreendido e subversivo. Um historiador deixa escapar um comentário sobre a hierarquia da Igreja na época, em que “os bispos eram de ouro e os cálices de madeira”.
Não vou me ater as discussões históricas posteriores, apenas trago esses elementos para uma reflexão sobre a “subversão cristã” necessária nos dias atuais. É no mínimo curioso saber que não somos nós, hoje, os cristãos, ocidentais, bons cidadãos, pais de famílias respeitados, moralmente e politicamente corretos que todos os domingos vamos ao culto ou a missa, que incomodamos o império! Pelo contrário somos elogiados!
“O mundo odiará vocês” (JO 15,19), essas palavras soam desafiadoras e interpelativas hoje. Não se trata de buscar ser masoquista, gostar de sofrer, mas de que em nossa prática profética, ser sinal de esperança, e ser evangelizador é fazer valer nossa dimensão missionária que consiste em materializar a esperança aos desesperados. Infelizmente parece que ser cristão hoje soa mais com o estereótipo do bom comportamento, bem disciplinados (como Foucault descreve), do que no desafio da vivência do evangelho na sociedade e nas suas estruturas.
E por falar em esperança, esta categoria não tem sido muito experimentada em nossa sociedade.Vivemos na sociedade da satisfação imediata advinda do consumo. Nunca se consumiu tanto em nossa sociedade como nesses tempos. Aliás, tempos em que a alta tecnologia se confunde com a pobreza e miséria humana. Falta-se o pão, a educação, a saúde, o essencial para a vida, mas não o celular, e a televisão despertando a confusão entre desejo e esperança. Só podemos ter esperança quando esperamos algo que não temos.
O povo de Israel tinha motivos de esperar, Maria espera ansiosa o cumprimento da promessa de Deus mediante seu sim. Na sociedade do consumo, a espera é substituída pelo desejo de ter.Mediante a esperança criamos condições de ser. Através da Promessa de Deus, o povo se torna seu povo santo, a virgem se torna Mãe pois o Verbo divino se torna humano. Evangelizar se pauta nesta fundamental categoria humana.
Não polemizarei aqui afirmando que os dirigentes islâmicos que tem desafiado o neoliberalismo fundamentam a esperança de alguém, ou incitem o medo. O que quero dizer é que tampouco o modo de vida ocidental, proposto pelo capitalismo neoliberal e triunfalista, e infelizmente vivenciada pela grande massa de “batizados”, tem conseguido sanar os problemas da “banda” empobrecida e “vencida” no mundo.
Neste sentido, nos ensina Pe. Comblin “ ocorre que a mensagem cristã é essencialmente mensagem de esperança, sobretudo para os vencidos. Jesus surge como o próprio sinal de esperança para os camponeses pobres da Galiléia. A sua caminhada pelas aldeias despertou uma fermentação de esperança e entusiasmo. E esse é o núcleo, o ponto de partida de todo projeto cristão, que não pode se afastar das origens sob pena de perder o seu sentido e sua força. Jesus vai para a Galiléia. A opção básica por este lugar já acontecia como Boa-Nova, Evangelho. Jesus nem precisava falar muito. A escolha pelo povo da Galiléia para realizar seus sinais falava por si mesmo. A evangelização não precisa de muitos discursos, a escolha acertada do lugar onde a gente está é essencial para isso. Essa é a referencia absoluta, impostergável e, ao mesmo tempo, um desafio. Os discípulos de Cristo sempre foram para a “Galiléia”? E hoje, estão na “Galiléia”? Quando muitas vezes a relativa esterilidade da evangelização ocorre, não vejo outra explicação. É urgente ir para a “Galiléia”. Quem fizer isso, torna-se sinal de esperança”. E onde ficava a Galiléia? Na periferia da Palestina. É interessante como Jesus insiste em alguns lugares especiais, Galiléia, Betânia, Samaria.Todos lugares periféricos e pobres.
Termino essa pequena reflexão na tentativa de fomentar um pouco mais nossa missão de cristãos: os leigos em seu testemunho constante diante de todas as estruturas da sociedade, mas principalmente os clérigos, lideres eclesiásticos , padres e pastores, como também os educadores . Não está na hora de começarmos a mudar nossa forma de pastoreio e educação e começar a desafiar nossas “ovelhas” gordinhas a serem expertos “cabritos selvagens? Lembro-me de Rubem Alves nesta hora que dizia que nosso grande desafio como pastores e educadores do povo não é formar gente conformada, como “óh velhinhas” que balem “amééémm”quando pregamos ou ensinamos, mas bodes selvagens monteses, aqueles que sobem no alto das montanhas desafiando a lei da gravidade e tem coragem de vivenciar um encontro existencial em suas vidas olhando profundamente nos olhos de Deus.
Ser cristão é correr riscos, somos herdeiros de um “criminoso político” histórico condenado em dois processos. Mas como diz Frei Betto,temos a genética da “sementinha de mostarda”. Se nossa fé for do tamanho dela, ( nem precisa ser maior) removeremos montanhas, cercas que impedem pessoas de viver e amar, fome, preconceitos, tradições sem sentido, violências, etc... Mas se nada sair do lugar, o contrario de nossa fé, não será a incredulidade, mas sim, o medo vencendo a esperança . “Homens da Galiléia, por que vocês estão ai parados olhando para o céu?”(At 1,11).
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