Tenho pensado muito ultimamente. As vezes até demais. Pensar muitas vezes incomoda a gente. Somos constantemente bombardeados de informações sobre violência, sobre guerras, crises econômicas, novas tecnologias, enfim, até mesmo escândalos políticos e separações de artistas! Fiz um trato comigo mesmo de tentar não perder a paz por pouca coisa, mas algumas coisas nos perturbam muito pelas suas contradições.Ultimamente uma de minhas preocupações tem sido o crescente distanciamento motivado por interesses econômicos e políticos entre o ocidente ( leia-se EUA) e o oriente ( islã). Retirando as mascaras e os disfarces, sabemos perfeitamente que o debate entre  Bush e os paises islâmicos não são motivados pela “missão “de levar a democracia e a liberdade aos cidadãos islâmicos, mas sim a expansão de mercados e exploração de recursos minerais(petróleo) no oriente médio e Ásia central. O islã e a cultura oriental teoricamente inviabilizariam a expansão neoliberal do capitalismo em suas ultimas fronteiras.
É uma pena que a maioria dos meios de comunicação do ocidente comprometidos com o capitalismo não faz a critica necessária e deixa de informar o que está além das aparências. Começo a temer pela eminência de uma nova “guerra santa” convocada por “um neo-cruzado liberal” que evoca o nome de Deus para justificar suas ações de liberdade e democracia. E por falar em democracia, o novo elemento propagandístico  do momento é o filme 300, que retrata a defesa da Grécia e o  seu modo de vida pelo rei espartano Leônidas contra  Xerxes e os persas ( atual Irã). Nada mais sugestivo para lembrar os engodos envolventes do cenário da ofensiva estadunidense no momento. De tudo isso o que mais me intriga é o fato de que pequenos paises islâmicos, pobres, deficientes em tecnologia incomodam tanto o império!
Diante dessa constatação, como cristão, me volto para a Bíblia fazendo a leitura critica do momento, relembrando Frei Carlos Mester em seu método de leitura, no qual dizia que devemos ter a Bíblia numa mão e o jornal em outra para que a leitura da palavra sagrada fosse fecunda e permeasse nossa realidade. Não se trata de reduzir a Palavra como “gancho” de compreensão da realidade, mas fazer a leitura da realidade na perspectiva iluminadora da Palavra de Deus. “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (salmo 119, 105). Fiquei imaginando a cena de Atos dos Apóstolos 17,6 onde Paulo e Silas incomodam bastante e são tratados como os homens que estão “transtornando o mundo inteiro (...) afirmando que existe outro rei chamado Jesus”.
 Sabemos que na época de Paulo e sua equipe pastoral, no contexto do império romano, proclamar outra fonte de autoridade fora do imperador era subversão. Daí decorre em parte as grandes perseguições que sofreram os cristãos nos séculos seguintes, antes do casamento da Igreja primitiva com o Estado imperial. Digo que decorre em parte, pelo fato de que o que os cristãos iriam incomodar mais por suas práticas que por suas crenças especificas o poderoso império romano. A superação de uma concepção de trabalho manual como sendo algo exclusivo de escravos, choca-se com os próprios ensinamentos de Paulo, ele não quis ser peso para as Igrejas a quem anunciava a Boa Nova, nisso podemos enxergar o gérmen da abolição da escravidão como prática dos que aceitam a seguir Jesus em seu Caminho (AT 9,2), e conseqüentemente a incompreensão por parte da cultura aristocrática dos greco-romanos. Perseguição a vista! Algo mais, o cristianismo ensinou aos seus o respeito nas relações de gênero num sistema extremamente patriarcal. Mais perseguição e incompreensão! Partilha e comunhão de vida, relações de gratuidade, libertando o pobre de sua miséria e o rico de sua avareza, tudo isso celebrado, com mulheres, escravos e estrangeiros na mesma mesa, todos unidos pela verdade do evangelho (Gal 3,27), mais um motivo para incomodar.Enfim, em quase trezentos anos “ser cristão” representava ser incompreendido e subversivo. Um historiador deixa escapar um comentário sobre a hierarquia da Igreja na época, em que “os bispos eram de ouro e os cálices de madeira”.
Não vou me ater as discussões históricas posteriores, apenas trago esses elementos para uma reflexão sobre a “subversão cristã” necessária nos dias atuais. É no mínimo curioso saber que não somos nós, hoje, os cristãos, ocidentais, bons cidadãos, pais de famílias respeitados, moralmente e politicamente corretos que todos os domingos vamos ao culto ou a missa, que incomodamos o império! Pelo contrário somos elogiados!
 “O mundo odiará vocês” (JO 15,19), essas palavras soam desafiadoras e interpelativas hoje. Não se trata de buscar ser masoquista, gostar de sofrer, mas de que em nossa prática profética, ser sinal de esperança, e ser evangelizador é fazer valer nossa dimensão missionária que consiste em materializar a esperança aos desesperados. Infelizmente parece que ser cristão hoje soa mais com o estereótipo do bom comportamento, bem disciplinados (como Foucault descreve), do que no desafio da vivência do evangelho na sociedade e nas suas estruturas.
E por falar em esperança, esta categoria não tem sido muito experimentada em nossa sociedade.Vivemos na sociedade da satisfação imediata advinda do consumo. Nunca se consumiu tanto em nossa sociedade como nesses tempos. Aliás, tempos em que a alta tecnologia se confunde com a pobreza e miséria humana. Falta-se o pão, a educação, a  saúde, o essencial para a vida, mas não o celular, e a televisão despertando a confusão entre desejo e esperança. Só podemos ter esperança quando esperamos algo que não temos.
O povo de Israel tinha motivos de esperar, Maria espera ansiosa o cumprimento da promessa de Deus mediante seu sim. Na sociedade do consumo, a espera é substituída pelo desejo de ter.Mediante a esperança criamos condições de ser. Através da Promessa de Deus, o povo se torna seu povo santo, a virgem se torna  Mãe pois o Verbo divino se torna humano. Evangelizar se pauta nesta fundamental categoria humana.
Não polemizarei aqui afirmando que os dirigentes islâmicos que tem desafiado o neoliberalismo fundamentam a esperança de alguém, ou incitem o medo. O que quero dizer é que tampouco o modo de vida ocidental, proposto pelo capitalismo neoliberal e triunfalista, e infelizmente vivenciada pela  grande massa de “batizados”, tem conseguido sanar os problemas da “banda” empobrecida  e “vencida” no mundo.
Neste sentido, nos ensina Pe. Comblin “ ocorre que a mensagem cristã é essencialmente mensagem de esperança, sobretudo para os vencidos. Jesus surge como o próprio sinal de esperança para os camponeses pobres da Galiléia. A sua caminhada pelas aldeias despertou uma fermentação de esperança e entusiasmo. E esse é o núcleo, o ponto de partida de todo projeto cristão, que não pode se afastar das origens sob pena de perder o seu sentido e sua força. Jesus vai para a Galiléia. A opção básica por este lugar já acontecia como Boa-Nova, Evangelho. Jesus nem precisava falar muito. A escolha pelo povo da Galiléia para realizar seus sinais falava por si mesmo. A evangelização não precisa de muitos discursos, a escolha acertada do lugar onde a gente está é essencial para isso. Essa é a referencia absoluta, impostergável e, ao mesmo tempo, um desafio. Os discípulos de Cristo sempre foram para a “Galiléia”? E hoje, estão na “Galiléia”? Quando muitas vezes a relativa esterilidade da evangelização ocorre, não vejo outra explicação. É urgente ir para a “Galiléia”. Quem fizer isso, torna-se sinal de esperança”. E onde ficava a Galiléia? Na periferia da Palestina. É interessante como Jesus insiste em alguns lugares especiais, Galiléia, Betânia, Samaria.Todos lugares periféricos e pobres.
Termino essa pequena reflexão na tentativa de fomentar um pouco mais nossa missão de cristãos: os leigos em seu testemunho constante diante de todas as estruturas da sociedade, mas principalmente os clérigos, lideres eclesiásticos , padres e pastores, como também os educadores . Não está na hora de começarmos a mudar nossa forma de pastoreio e educação e começar a desafiar nossas “ovelhas” gordinhas a serem expertos “cabritos selvagens? Lembro-me de Rubem Alves nesta hora que dizia que nosso grande desafio como pastores e educadores do povo não é formar gente conformada, como “óh velhinhas” que balem “amééémm”quando pregamos ou ensinamos, mas bodes selvagens monteses, aqueles que sobem no alto das montanhas desafiando a lei da gravidade e tem coragem de vivenciar um encontro existencial em suas vidas olhando profundamente nos olhos de Deus.
Ser cristão é correr riscos, somos herdeiros de um “criminoso político” histórico condenado em dois processos.  Mas como diz Frei Betto,temos a genética da “sementinha  de mostarda”. Se nossa fé for do tamanho dela, ( nem precisa ser maior) removeremos montanhas, cercas que impedem pessoas de viver e amar, fome,  preconceitos, tradições sem sentido, violências, etc...  Mas se nada sair do lugar, o contrario de nossa fé, não será a incredulidade, mas sim, o medo vencendo a esperança . “Homens da Galiléia, por que vocês estão ai parados olhando para o céu?”(At 1,11).
terça-feira, 17 de julho de 2007
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Um comentário:
Oi Primo, tudo bem?
Muito bacana seu blog!
Vou lê-lo com mais tempo, e depois digo o que achei!
Muitas saudades de todos!
Beijos, paz e luz!
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